O Tempo

Wednesday, October 05, 2005

Mercado abrangente garante trabalho para médicos

Júnia Leticia

Profissional que cuida da saúde humana, costuma-se dizer que para o médico jamais falta trabalho. Seja em consultório próprio, hospitais públicos ou privados, clínicas, postos de saúde ou ambulatórios, esse profissional é indispensável para a prevenção e cura de enfermidades.

Segundo o primeiro-secretário do Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais (CRM-MG), Jader Campomizzi, o mercado de trabalho para o profissional da medicina é abrangente. “A medicina da família e as unidades de pronto atendimento são responsáveis por absorver grande parte dos médicos. As operadoras de plano de saúde também credenciam boa parte dos profissionais, mas nesse caso é necessário possuir alguma especialidade”, esclarece Campomizzi.

Apesar de não faltar trabalho, os médicos sofrem com a baixa remuneração. “Há muito subemprego e as condições de trabalho freqüentemente são inadequadas. A maioria dos profissionais hoje têm de se desdobrar para exercer sua função em três lugares diferentes, como ambulatórios, consultórios e hospitais”, ilustra o primeiro-secretário do CRM-MG. Quanto à remuneração, ele conta que por 60 horas semanais, os médicos recebem em média R$ 1.500.

Com o aumento da expectativa de vida, a geriatria, especialidade que lida com a saúde dos idosos, é uma das áreas mais promissoras da medicina. “No serviço público o médico generalista, que possui uma formação abrangente, continua em franca expansão, principalmente por causa de programas de saúde da família”, exemplifica Campomizzi. Profissionais que trabalham com novas tecnologias e administradores hospitalares também são bastante requisitados.

Diferentemente da visão do passado, hoje não se enriquece mais com a medicina, como ressalta o primeiro-secretário do CRM-MG. Por isso, para aqueles que querem exercer a profissão é necessário antes de tudo gostar do ser humano. “A pessoa tem de ter amor pela humanidade. Além disso, tem que gostar de estudar, pois sua formação requer um aprendizado contínuo.”

A boa formação profissional é outro requisito essencial para quem quer ser um médico. Mas conforme Campomizzi, com a abertura de novos cursos de medicina por todo o País, há uma preocupação muito grande com relação à qualidade de ensino. “Em cinco anos o número de faculdades de medicina subiu de dez para 18 só em Minas Gerais. No Brasil eram cerca de 100, hoje já são mais de 130.”

Atualmente o número de profissionais que se formam é suficiente para suprir as necessidades do mercado de trabalho. “Por ano se graduam cerca de 1300 médicos no Estado e 10 mil no País. Mas quando a primeira turma dessas novas instituições de ensino terminarem o curso, tememos que o mercado fique saturado”, observa o primeiro-secretário do CRM-MG.

Durante os seis anos da graduação, a formação do estudante é direcionada para que ele, quando se graduar, possua habilidades e capacidade para atender e resolver a maioria dos problemas de saúde da população. “Por isso ele se forma com conhecimento em quatro grandes áreas: clínica médica, pediatria, ginecologia e obstetrícia e princípios cirurgia”, esclarece o diretor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Geraldo Brasileiro Filho.

De acordo com o diretor da Faculdade de Medicina da UFMG, após a graduação boa dos médicos cursa algum tempo de residência para fazer uma especialização. “O período para se tornar um especialista varia de dois a quatro anos, dependendo da área escolhida. Entre as formais há mais 50 áreas reconhecidas para a atuação do médico”, conta Brasileiro.

Além de uma boa formação básica e potencial para continuar estudando, o diretor da Faculdade de Medicina da UFMG diz que é necessário que o estudante tenha disponibilidade para trabalhar. “A carga de trabalho é muito grande, em diferentes locais, ambientes e horários. Por isso é imprescindível que o médico compreenda e ouça as pessoas e também possua equilíbrio emocional.”

A possibilidade de poder contribuir para o bem-estar das pessoas foi o que motivou o universitário do 9o período de medicina da UFMG, Fernando Henrique Silva, a fazer o curso. Membro do Diretório Acadêmico (DA) da Universidade, Silva ainda faz parte do Núcleo do Pensamento Inquieto, ligado ao DA. “Nele organizamos eventos que abordam temas gerais da medicina. Essas discussões são importantes porque envolvem a qualidade dos serviços prestados pelo médico, questões relativas à ética profissional e à formação”, conta o universitário.

Projetos humanizam profissão


A fim de formar profissionais mais humanos, foram criados projetos, não só do Brasil, como em outros países, que amenizam o sofrimento daqueles que requerem cuidados médicos intensivos. O Abraçarte e o Cativar, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) são dois exemplos deles.

Criados em 2001, o Abraçarte e o Cativar surgiram da iniciativa de um grupo de alunos preocupados com o bem-estar do paciente, como conta a professora do Departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Medicina da UFMG e coordenadora dos dois projetos, Rosa Maria Quadros Nehmy. “Trabalhamos com a relação médico-paciente, que costuma ser fria, limitando-se apenas à ministração de remédios. Percebemos que esse quadro devia ser mudado.”

Pelo Cativar são atendidos pacientes adultos fora de possibilidade de cura. Já o Abraçarte, voltado para crianças, realiza atividades lúdicas. “Em parceria com a Faculdade de Belas Artes da UFMG, os universitários de medicina recebem treinamento para fazer esquetes no hospital”, diz Rosa Nehmy. Ambos os projetos são realizados no Hospital das Clínicas.

Segundo a professora, os trabalhos proporcionam a formação de médicos muito mais sensíveis. “Os profissionais da medicina mudaram. Hoje eles têm a capacidade de escutar os pacientes.”

Estudante do 8o período de medicina na UFMG e participante do Abraçarte desde sua fundação, Flávia Alves diz que os projetos proporcionam uma nova visão acerca da medicina. “Os estudantes passam a enxergar as pessoas como seres humanos e não apenas como doentes.”

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