O Tempo

Wednesday, October 05, 2005

Avanços tecnológicos fazem do engenhario um profissional indispensável

Júnia Leticia

Um dos cursos mais concorridos nos vestibulares que acontecem pelo País, a graduação em Engenharia, passa por um momento de grandes perspectivas de crescimento. Devido aos avanços tecnológicos, a graduação se fragmentou e estima-se que haja pelo menos 30 tipos diferentes de especialidades no Brasil.

A principal atividade do engenheiro, independente de sua área, é criar novas alternativas de desenvolvimento. “Ele lida com tecnologia e técnicas para produção de algo no plano concreto. Criar é o elemento básico da Engenharia”, esclarece o diretor adjunto acadêmico do Instituto Politécnico da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (IPUC), Otávio de Avelar Esteves.

Todas as engenharias, que possuem duração média de cinco anos, exigem uma sólida formação em ciências exatas (matemática, física e química). A partir dessa base é que o profissional tem como transformar recursos naturais em bens e serviços. “Depois é que há as especificidades”, conta o diretor geral da Faculdade de Engenharia e Arquitetura da Universidade Fumec, Paulo Roberto Henrique.

Os indícios de reaquecimento da economia brasileira fazem com que o diretor adjunto acadêmico do IPUC acredite que o mercado de trabalho se torne ainda mais promissor. “Por criar soluções tecnológicas para a sociedade, a Engenharia é indispensável para o progresso econômico do País”, ressalta Esteves.

Apesar de hoje o mercado real ser de baixa e recessivo, como sinaliza o diretor geral da Faculdade de Engenharia e Arquitetura da Fumec, há perspectivas de melhoria nos diversos setores que envolvem a área. “Se formos analisar no plano real, o mercado de trabalho teria de ser fantástico, porque não há desenvolvimento sem a Engenharia. Mas infelizmente não existe a vontade política de investir no social. Saneamento básico, habitação e hospitais, tudo isso só é possível utilizando os recursos da Engenharia”, afirma.

A necessidade de modernização no Brasil faz com que todas as áreas da Engenharia sejam promissoras. “Com isso há mercado para a Engenharia de Controle e Automação, Mecatrônica, Eletrônica e de Telecomunicação, enfim, tem espaço para todas. Há uma perspectiva muito grande de crescimento de demanda por engenheiros em um período de três a dez anos”, diz o diretor adjunto acadêmico do IPUC.

Recentemente, para acompanhar as mudanças no mundo e no Brasil, o Conselho Nacional de Educação editou a Resolução 11, de 11 de março de 2002, que estabelece as diretrizes curriculares nacionais do curso de Engenharia. “O art 3o, por exemplo, diz que o engenheiro precisa ter uma formação generalista, humanista, crítica e reflexiva. Isso é absolutamente diferente do que as pessoas geralmente entendem da profissão”, ressalta Esteves.

O diretor adjunto acadêmico do IPUC acrescenta que o perfil do novo engenheiro que a sociedade demanda é mais eclético. “Com isso, a Engenharia vai ser outra, mais dinâmica e atuante. Essa concepção está relacionada à mudança de paradigma da ciência vigente no mundo hoje, que está baseada na fragmentação”. De acordo com Esteves, essa fragmentação levou à especialização em que a pessoa trata cada vez mais com menos. “É o contexto do pequeno no grande, no qual há uma tendência do trabalho mais sistêmico, com abordagens mais integradas, também no que se refere ao aspecto humano.”

Por não ser um curso barato em termos de instalação, a Engenharia não sofre com a queda da qualidade do ensino motivada pela proliferação de instituições de ensino no Brasil, como aponta o diretor adjunto acadêmico do IPUC. “O curso prescinde de laboratórios, de uma infra-estrutura mais sofisticada e complexa de ser criada.”

Para o diretor geral da Faculdade de Engenharia e Arquitetura da Fumec, a Engenharia é talvez a atividade profissional que menos tem crescido em termos de instalação de novos cursos. “Primeiro porque são cursos de investimento significativo. Segundo porque o mercado estava recessivo e como o jovem é imediatista, não consegue vislumbrar que uma área que hoje está em baixa, pode ser promissora, considerando o término dos cinco anos da graduação.”

No 7º período de Engenharia de Telecomunicações da Fumec, Pedro Henrique Chaves optou pela graduação porque no momento em que prestou vestibular o mercado era promissor. “O cenário era muito bom, principalmente devido às privatizações, e continua assim devido à convergência de redes, como o que já ocorre com o acesso da Internet pelo celular.”

O universitário do 8º período de Engenharia de Controle e Automação da PUC-Minas, César Augusto Sousa Ribeiro, interessou-se pela área devido ao crescimento do mercado. “Ultimamente tudo está sendo operado por máquinas, e com isso crescem as ofertas de trabalho”, reforça.

Já para o estudante do 4o período de Engenharia Eletrônica e Telecomunicação, Ivan Resende Leitão, o fato de ser totalmente inovadora faz com que a especialidade esteja em ascensão. “É uma área que está em constante atualização e de importância geral para todos.”

Nova áreas carecem de profissionais

Ainda pouco conhecida, a Engenharia de Alimentos é um campo em expansão. Capaz de englobar todos os elementos relacionados à industrialização de alimentos, é essa especificidade da Engenharia que cuida de todas as etapas de preparo e conservação de alimentos de origem animal e vegetal, desde a seleção da matéria-prima até o controle da qualidade final.

Um dos fatores que impulsionam a área é o crescimento do setor de agronegócios. “E para que a agroindústria se desenvolva é necessário o trabalho do engenheiro de alimentos. Além de garantir qualidade na armazenagem, acondicionamento e preservação dos produtos, o profissional consegue reduzir custos”, conta a coordenadora do curso no Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH), Márcia Edilamar Pulzatto.

O engenheiro de alimentos pode atuar em indústrias de produtos alimentícios e de insumos para processos e produtos (matérias-primas, equipamentos, embalagens e aditivos), além de órgãos e instituições públicas. “Na indústria, o profissional pode atuar na produção, selecionando equipamentos, coordenando análises laboratoriais e estudando processos de conservação e de embalagem, bem como na pesquisa e desenvolvimento de novos produtos”, esclarece a coordenadora.

Em laboratórios, o profissional cria novas receitas para determinar o valor nutricional dos alimentos. “Características sensoriais como sabor, cor e consistência dos alimentos e os tipos de conservante que serão aplicados são outros aspectos determinados pelo engenheiro de alimentos”, diz Márcia Pulzatto.

As perspectivas de ascensão profissional fizeram com que o técnico químico Marcelo Rodrigo Sampaio Jordão escolhesse o curso. Aluno do 3º período no UNI-BH, ele acredita que há muito espaço no mercado para a profissão. “Além disso, saímos com uma formação bem rica para começar a carreira.”

Crescimento ficará abaixo das expectativas

Apesar da sinalização de melhora do mercado de trabalho para as engenharias com a retomada do crescimento econômico brasileiro, o processo de desenvolvimento da profissão ainda está meio acanhado, de acordo o presidente do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Minas Gerais (Crea-MG), Marcos Túlio de Melo.

Nos últimos dois anos, entretanto, houve uma reação, especialmente na área de Engenharia de Minas. “Motivada por um crescente processo de exportação de minério, a demanda de profissionais tem sido maior do que as instituições de ensino são capazes de formar”, verifica.

Na área industrial o engenheiro começa a ter uma inserção maior no mercado de trabalho. “Principalmente os mecânicos, devido ao bom desempenho do País no setor nos últimos anos. Isso faz com que se busquem cada vez mais profissionais.”

O projeto das Parcerias Público-Privadas (PPP) de Minas Gerais apresentado no Congresso Nacional também faz com que a área passe por uma fase de expectativas. “Caso o projeto seja aprovado, vai gerar uma série de investimentos, principalmente no setor elétrico”, verifica Matos. Segundo o presidente do Crea-MG, será necessário tanto profissionais da engenharia elétrica, como da civil. Os primeiros para trabalhar na geração e produção de energia e os outros para construir barragens.

A telecomunicação é outra área que assistiu a uma grande procura por profissionais recentemente. “Isso ocorreu em função do bum no setor. Mas nossas expectativas ainda são conservadoras.”

O crescimento dos agronegócios no Brasil tem feito com que a Engenharia Agronômica também tenha grande ocupação no cenário profissional. “Há setores mais promissores, sobretudo aqueles vinculados às empresas exportadoras”, diz Matos.

Já a Civil, uma das áreas mais conhecidas da Engenharia, tem enfrentado um momento de retração devido aos poucos investimentos na área da construção. “Temos assistido a uma grande ociosidade no setor. Nossa expectativa é que o programa proposto pelo Governo Federal através do Ministério das Cidades seja aprovado.”

Com relação à abertura de curso de Engenharia no País, o presidente do Crea-MG diz que a grande oferta de profissionais, muitas vezes despreparados, faz com que haja uma desvalorização da profissão. “É um mercado muito restrito. Com isso muitos engenheiros não estão tendo uma ocupação nem uma remuneração adequada à sua formação. Sem contar que em muitas faculdades a estrutura, seja de professores ou mesmo dos laboratórios, deixam a desejar.”

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